Vai mesmo ter que ser...
Prestes a entrar no
terceiro mês, dos cerca de 20 que me esperam até ao fim do curso,
já perdi a conta às vezes que discuti a questão da indisciplina
nas escolas. Fosse com os meus companheiros de curso, fosse com os
meus professores, fosse com os professores dos outros, já deu mesmo
para tema duma reflexão por escrito, no módulo que diz respeito à
Língua Portuguesa, da professora Sandra Carvalho.
Entre várias coisas, e
tendo muito em conta o que fui ouvindo, especialmente do lado do
corpo docente, houve um ponto que desde logo me intrigou, e que me
fez, precisamente, escrever esta nota. Não só pelo seu teor, mas
principalmente por uma notícia entretanto colocada em circulação.
Segundo o que pude entender, ao contrário do que se passava lá para
o fim da década de 90, do século passado – bolas, estou a ficar
cota... – o aluno que perturba a aula, nos dias que correm, já não
'vai para a rua'. A técnica, agora, é juntar os putos todos numa
sala pensada para o efeito, durante o tempo previsto para a aula da
qual foram expulsos.
Os pontos de interrogação
começaram logo a borbulhar na minha massa encefálica, como de
pipocas se tratassem. Qual é o professor que, no seu perfeito juízo,
se voluntaria para comandar a turma dos desalinhados? Ou o pobre
coitado é simplesmente nomeado? Se o é, qual o critério de
selecção para tão nobre função? E estes profissionais da
educação, têm algum tipo de formação extra, de forma a poder
lidar, não com um, não com dois, mas com todo um regimento desses,
que não têm lugar junto dos que 'sabem estar'? Ou estes são apenas
depositados, transformando aquele espaço numa espécie de gueto?
Será que lhes é atribuída, também, uma braçadeira que terão de
usar desde que entram no estabelecimento de ensino, até que saem?
Duas palavrinhas: efeito
prático! Qual? Onde está? Isto tem resultado? Sim, pelos vistos
tem. Este método deve estar a funcionar tão bem, que o nosso
Ministro da (des)Educação quer estender o programa aos maus alunos.
Não chega segregar os mal comportados, há que separar também
aqueles que não têm boas notas. Tenho-o dito muitas vezes e não me
canso: Darwin, se pudesse estar hoje a estudar a evolução da
espécie, de certo não acampava nas Galápagos, levava um saco cama
ali para o Terreiro do Paço, e ia tirando umas notas. No país dos
ricos, saudáveis, inteligentes e alinhadinhos com o sistema
implantado, seja ele de que espécie for. Qual raça pura...
O argumento: exigência. O
exemplo: as escolas privadas, que, pelo que pude saber, já o fazem
em certas cadeiras. Não querendo ser preconceituoso, aqui
separam-se, quanto muito, os bons dos muito bons. E ao que parece, na
maioria dos casos, nem sequer se pode falar em separação, mas em
aulas extra! De todo modo, não deixa de ser curiosa, a proveniência
do exemplo... a medida é conhecida como 'Grupos de Nível'. De
nível...!
Entre outras, parece que
também está em cima da mesa o fim da componente cívica, no ensino
secundário. É que isto da malta nem sequer votar, quanto mais
cumprir os restantes deveres cívicos, dá um certo jeito,
nomeadamente a quem tem presença assídua a cada sufrágio.
Bom, mas o meu compromisso
foi o de escrever sobre a indisciplina, mas duma forma mais pessoal e
personalizada, ao contrário do trabalho feito para o curso. Só não
o posso fazer agora, porque estou precisamente... numa aula. E não
vá eu ser enfiado na sala dos renegados, porque continuo a não
saber estar, é melhor parar por aqui, e, um dia destes, farei uma
versão mais agressiva de «O sistema de ensino sob o olhar dum
indisciplinado de 30 anos».