terça-feira, 21 de fevereiro de 2012

Perguntas Frequentes (ou não) IV



Breve questão: porque não declarar que o Carnaval é todos os dias, sem tolerância de ponto?

 - é que foi o único dia que me lembro em que só o Parlamento é que trabalhou! Apesar da blasfémia que é, neste caso, o emprego da palavra 'trabalho', não me parece nada má ideia! (fiquei foi curioso sobre qual o custo de ter milhares de departamentos públicos abertos sem qualquer afluência).

sexta-feira, 17 de fevereiro de 2012

Nem com Viagra, sr. Silva!




E não é que o homem quer mesmo aprender qualquer coisinha? Eu cheguei a pensar que ontem Cavaco Silva teria cancelado a sua visita à escola António Arroio a fim de contribuir para a natalidade nacional. Assustei-me, confesso (mais um(a)...!?), mas como não me acredito nessas teorias da conspiração que afirmam que o cancelamento se deveu a protestos que decorriam naquela escola, lembrei-me que talvez alguém lhe tivesse dado a resposta à questão colocada há uns meses: 'o que é que é preciso fazer para que nasçam mais crianças em Portugal?'. Mais tarde cheguei à conclusão que, dada a idade do Presidente, talvez tivesse receio de receber conselhos da juventude, e reparar que já não pode fazer muito pelo problema em causa. Ou pelo menos que não tenha pedal para os receber de jovens com as hormonas a explodirem por todos os poros.
Mas ele insiste! Desta vez à porta fechada, qual Loja Maçónica dos Ensinamentos Para o Sexo Reprodutivo, por-favor-não-protestem-quero-falar-de-bebés! É só para 'especialistas'. Chamou mesmo alguns internacionais, visto que esta 'especialidade', em Portugal, condiz com qualquer outra 'especialidade' tuga: baixa produtividade (será que aqui o segredo também passa por exportar?). Ele aparenta querer mesmo aprender a fazer bebés.
Mas o sr. Presidente da República ainda não percebeu que o segredo para a eventual prosperidade portuguesa está... em deixar de haver portugueses? Esta latrina, sobre a qual o sr. teve uma pesada influência nas últimas décadas, não é para ninguém! Se os números da natalidade em Portugal são preocupantes, retire as gravidezes indesejadas, retire as irresponsáveis, e faça uma contabilidade séria do problema. É que este não reside na falta de sexo, sr. Presidente... e desta, juro que falo com conhecimento de causa: 10 anos, sr. Presidente. 10 anos a viver em União de Facto e há uma (e apenas uma, lamento) testemunha fortíssima em como falta muita coisa lá em casa, mas sexo ainda não paga imposto, logo usamos e abusamos de tudo o que está isento de IVA ou IRS... filhos? Nem vê-los! E olhe que não preciso de juntar 'especialistas' num palácio em Cascais para saber como se fazem.
O desemprego, o oficial, não pára de aumentar – 14%, dizem eles. Os números da precariedade são ainda mais assustadores. O abono já nem encaixa na definição 'ridículo'. A forma como as mulheres são pressionadas, ou mesmo perseguidas, nos seus postos de trabalho... a obrigatória (e ilegal) pergunta 'tem ou deseja ter filhos em breve?' a cada mulher que vai a uma entrevista. A redução de ordenados, a facilitação dos despedimentos, blá blá blá, todos aqueles pontos assinados na última concertação social, que o sr. Presidente afirmou perante instâncias internacionais, que faziam inveja a muitos países. É preciso fazer um desenho, sr. Professor? Especialistas? Especialista é a Marta Crowford!
Nós temos uma tendência natural para falarmos das nossas reformas através de expressões como 'é o meu dinheiro, descontei anos para o ter lá'. Mas todos sabemos que isto não corresponde à realidade. A sua pequenina reforma é garantida por quem desconta actualmente (para não dizer que é pelos 78 mil M€ do tal 'empréstimo'). Porquê? Porque o sr. e os da sua geração derreteram tudo o que havia e não havia, e os cofres da SS estão cheios... de ar e vento! E agora, que começamos a ver que não vai haver quem garanta, por exemplo, o dinheiro que eu desconto todos os meses para pagar, por exemplo, a sua pequena reforma, precisamos de justificar à tal geração, a rasca, o que é que a outra geração, a 'no meu tempo é que era', fez à guita toda.
Engendramos aí um esquema (à porta fechada) para mostrar ao mundo a gigante preocupação que temos com a natalidade no país. Não sei como é que explicaremos o porquê desta preocupação, quando insistimos que a solução para a juventude é emigrar, mas depois fazemos outra conferência noutro palácio qualquer para discutir como é que eles voltam. Para mostrarmos que estamos muito preocupados. Não sou letrado. Leio pouco, muito pouco. Mas sei que Saramago um dia o classificou de 'génio da banalidade'. E esse não era ignorante. Nem lia pouco.
O sr. Silva não acredita «que tenha desaparecido nos portugueses o entusiasmo por trazer novas vidas ao mundo». Não, não desapareceu. O que apareceu agora foi a grande depressão dos portugueses aos quais lhes é cortado esse entusiasmo! E não é preciso ser-se especialista para perceber que este entusiasmo que murchou... nem com Viagra lá vai!

sexta-feira, 3 de fevereiro de 2012

Tripes à moda do Porto III



Utentes exaltados partiram a pontapé as divisórias de vidro dos serviços da Segurança Social da Loja do Cidadão do Porto, na Torre das Antas. São tripes... tripes à moda do Porto!

quinta-feira, 2 de fevereiro de 2012

Perguntas Frequentes (ou não) III



Breve questão: se eventualmente a Grécia sair da zona Euro, o que é que vão fazer ali ao 'EYPΩ'?


- Sendo que a Grécia é o único país com uma designação exclusiva nas notas de €uro, saindo da moeda única não faz lá muito sentido manter-se o desenho... devia tirar-se todas as notas de circulação matando o EYPΩ assim como outrora se fez ao Pessoa, com as notas de 100$00


quarta-feira, 1 de fevereiro de 2012

O Eremita da Ervilha




O tempo tem sido escasso para poder escrever um pouco. De repente vi-me em braços com dois empregos, mais o regresso tão esperado à escola. Só que hoje, na sua crónica diária na Antena 1, 'Pano para mangas', João Gobern trouxe um tema interessante, que acho que deve ser mais divulgado!
Não é a primeira vez que tenho dois empregos ao mesmo tempo. Há uns quatro anos atrás trabalhava como estafeta numa pizzaria no Porto, ao mesmo tempo que era operador fabril a turnos rotativos numa empresa da Trofa. A vida era puxada e as refeições, quando existiam, eram de qualidade suspeita e a horas que não lembram ao diabo (do género tomar o pequeno almoço às 4 da tarde, ou jantar às 4 da manhã...). Algumas delas foram feitas entre entregas. Umas sandes daquelas que, chegados aos 40 anos, nos forçam a beber iogurtes-medicamento, tipo Actimel com bifidus activus ou aloe vera. A verdade é que ao fim de 2 anos qualquer coisa que não fosse pizza servia para desenjoar, de maneira que, quando calhava uma entrega ali para a zona do Liceu Garcia de Orta / Av. Antunes Guimarães, era prática habitual parar no Pingo Doce da Praça D. Afonso V, e comprar a matéria prima para mais um jantar-toca-a-subir-o-colesterol (se eventualmente um cliente vier a ler isto, esteja descansado que era sempre no regresso à pizzaria, sou muito profissional nesta arte de estafeta, ainh...!).
Certo dia, neste mesmo estabelecimento daquele supermercado holandês – que de resto ouvi dizer que melhorou substancialmente a sua prateleira de chás e ervas naturais – um homem tenta sair com um shampoo e um polvo sem pagar, mas é parado pelo segurança e a sua tentativa de furto não passa disso mesmo. Até aqui tudo normal, o homem obviamente devolve a fortuna de 25,66€ que valiam os produtos, e acaba sem a sua refeição e com uma ou duas rastas novas. Mas para os holandeses isto é demasiado grave para ser ignorado. Visto ter sido provado que o material (quase) roubado não servia para satisfazer necessidades básicas, o mesmo supermercado que vende leite abaixo do preço de custo, prática ilegal, para quem não saiba, não desiste da acusação apresentada ao Ministério Público, sob o argumento que, e passo a citar, «quem tem um negócio de portas abertas ao público, como é o caso, está particularmente vulnerável ao pequeno furto e não pode deixar de agir, sob pena de dar sinais errados à comunidade».
O homem incorre numa pena não superior a cinco anos de prisão, que será, ao que parece, substituída por trabalho comunitário (ou pelo pagamento de 250€ - o polvo está caro e o shampoo era dum professor qualquer com assinatura pomposa e cabelo à Richard Gear). Mas há um problema... ninguém sabe como notificar o arguido! E porquê...!? Não, não fugiu para o Brasil. Não, não é primo do Vale e Azevedo... simplesmente não tem morada! A última vez que foi visto ocupava um prédio abandonado, mas pode muito bem ter sido estadia de apenas uma noite, visto tratar-se nada mais nada menos que de um sem abrigo. Sim, perceberam bem, o sinal correcto a dar à comunidade é encher os tribunais com casos de pessoas na miséria que tentam roubar comida... e shampoo.
Ao ouvir Gobern na sua crónica lembrei-me dum senhor que vagueava muito aquela zona. Obviamente não sei se é dele que se trata, mas como era habitual ele ir tratar da sua higiene diária ali ao Lavadouro da Ervilha, junto à Praça do Império, e como o pobre coitado foi apanhado com um shampoo, talvez seja mesmo o Eremita da Ervilha, como eu o costumava nomear de cada vez que me imaginava a escrever sobre tão mítica figura local, detentora das mais variadas e tresloucadas lendas urbanas – havia quem dissesse que ele era podre de rico, mas queria viver na rua. Haviam os mais românticos que apontavam para desgosto de amor... eu sempre preferi não saber a verdade, dava-lhe um certo estatuto aqui no meu imaginário.
Cheguei a dar-lhe algumas moedas provenientes das gorjetas angariadas nas corridas-margaritas, precisamente no parque de estacionamento em frente a este Pingo Doce, numa ou outra odisseia de troce-destroce, daí achar que pode mesmo tratar-se do Eremita da Ervilha. Seja como for, sendo ele ou não, dá-me quase um desejo que consigam notificar o homem. E que não substituam a pena por trabalho comunitário (a menos que seja numa caixa do Pingo Doce...). É que se prenderem o Eremita durante uns tempos fica o prémio de consolação de saber que parte da TSU do grupo Jerónimo Martins será aplicada para dar um tecto e refeições quentes e diárias ao sem abrigo. É possível que o Lavadouro da Ervilha seja mais aprazível que os balneários de Custóias, mas pelo menos não terá que roubar shampoo durante uns tempos.

Ao grupo, e pela segunda vez neste recém nascido blogue: shame on you!