E não é que o homem quer mesmo
aprender qualquer coisinha? Eu cheguei a pensar que ontem Cavaco
Silva teria cancelado a sua visita à escola António Arroio a fim de
contribuir para a natalidade nacional. Assustei-me, confesso (mais
um(a)...!?), mas como não me acredito nessas teorias da conspiração
que afirmam que o cancelamento se deveu a protestos que decorriam
naquela escola, lembrei-me que talvez alguém lhe tivesse dado a
resposta à questão colocada há uns meses: 'o que é que é preciso
fazer para que nasçam mais crianças em Portugal?'. Mais tarde
cheguei à conclusão que, dada a idade do Presidente, talvez tivesse
receio de receber conselhos da juventude, e reparar que já não pode
fazer muito pelo problema em causa. Ou pelo menos que não tenha pedal
para os receber de jovens com as hormonas a explodirem por todos os
poros.
Mas ele insiste! Desta vez à porta
fechada, qual Loja Maçónica dos Ensinamentos Para o Sexo
Reprodutivo, por-favor-não-protestem-quero-falar-de-bebés! É só
para 'especialistas'. Chamou mesmo alguns internacionais, visto que
esta 'especialidade', em Portugal, condiz com qualquer outra
'especialidade' tuga: baixa produtividade (será que aqui o segredo
também passa por exportar?). Ele aparenta querer mesmo aprender a
fazer bebés.
Mas o sr. Presidente da República
ainda não percebeu que o segredo para a eventual prosperidade
portuguesa está... em deixar de haver portugueses? Esta latrina,
sobre a qual o sr. teve uma pesada influência nas últimas décadas,
não é para ninguém! Se os números da natalidade em Portugal são
preocupantes, retire as gravidezes indesejadas, retire as
irresponsáveis, e faça uma contabilidade séria do problema. É que
este não reside na falta de sexo, sr. Presidente... e desta, juro
que falo com conhecimento de causa: 10 anos, sr. Presidente. 10 anos
a viver em União de Facto e há uma (e apenas uma, lamento)
testemunha fortíssima em como falta muita coisa lá em casa, mas
sexo ainda não paga imposto, logo usamos e abusamos de tudo o que
está isento de IVA ou IRS... filhos? Nem vê-los! E olhe que não
preciso de juntar 'especialistas' num palácio em Cascais para saber
como se fazem.
O desemprego, o oficial, não pára de
aumentar – 14%, dizem eles. Os números da precariedade são ainda
mais assustadores. O abono já nem encaixa na definição 'ridículo'. A forma como as mulheres são pressionadas, ou
mesmo perseguidas, nos seus postos de trabalho... a obrigatória (e
ilegal) pergunta 'tem ou deseja ter filhos em breve?' a cada mulher
que vai a uma entrevista. A redução de ordenados, a facilitação
dos despedimentos, blá blá blá, todos aqueles pontos assinados na
última concertação social, que o sr. Presidente afirmou perante
instâncias internacionais, que faziam inveja a muitos países. É
preciso fazer um desenho, sr. Professor? Especialistas? Especialista
é a Marta Crowford!
Nós temos uma tendência natural para
falarmos das nossas reformas através de expressões como 'é o meu
dinheiro, descontei anos para o ter lá'. Mas todos sabemos que isto
não corresponde à realidade. A sua pequenina reforma é garantida
por quem desconta actualmente (para não dizer que é pelos 78 mil M€
do tal 'empréstimo'). Porquê? Porque o sr. e os da sua geração
derreteram tudo o que havia e não havia, e os cofres da SS estão
cheios... de ar e vento! E agora, que começamos a ver que não vai
haver quem garanta, por exemplo, o dinheiro que eu desconto todos os
meses para pagar, por exemplo, a sua pequena reforma, precisamos de
justificar à tal geração, a rasca, o que é que a outra geração,
a 'no meu tempo é que era', fez à guita toda.
Engendramos aí um esquema (à porta
fechada) para mostrar ao mundo a gigante preocupação que temos com
a natalidade no país. Não sei como é que explicaremos o porquê
desta preocupação, quando insistimos que a solução para a
juventude é emigrar, mas depois fazemos outra conferência noutro
palácio qualquer para discutir como é que eles voltam. Para
mostrarmos que estamos muito preocupados. Não sou letrado. Leio
pouco, muito pouco. Mas sei que Saramago um dia o classificou de
'génio da banalidade'. E esse não era ignorante. Nem lia pouco.
O sr. Silva não acredita «que tenha
desaparecido nos portugueses o entusiasmo por trazer novas vidas ao
mundo». Não, não desapareceu. O que apareceu agora foi a grande
depressão dos portugueses aos quais lhes é cortado esse entusiasmo!
E não é preciso ser-se especialista para perceber que este
entusiasmo que murchou... nem com Viagra lá vai!
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