segunda-feira, 21 de novembro de 2011

Aquilo que não nos dizem!


Eu não tenho TV por cabo. Neste momento pondero mesmo se devo ou não adaptar os aparelhos lá de casa para a linha terrestre, ou ir um sábado destes para a Vandoma e desfazer-me daquela tralha... ou comprar umas tartarugas e fazer das televisões aquários.
A SIC, canal pelo qual até tenho alguma simpatia no que diz respeito a reportagens especiais, possuidora de vários canais paralelos ao generalista, há uns tempos passou um extraordinário documentário depois da meia noite, na SIC Notícias - o 'Debtocracia'. A verdade é que mesmo que pagasse por dezenas de canais inúteis para ver apenas meia dúzia, de certo não estaria disposto a assistir ao documentário na noite (ou pré-manhã) mais complicada da semana, por natureza – a noite de Domingo.
Felizmente a minha lata levou-me a juntar alguns amigos nas redes sociais, que fazem questão de pelo menos tentarem abrir a pestana a quem não gosta de remelas. Nessa altura, uma dessas minhas 'amizades virtuais', a Sandra, escreveu uma nota a dar conta dessa peça, que aproveito para dar a conhecer a quem, como eu, ainda tem a felicidade de trabalhar às segundas bem cedo.

Vejam!! Mas vejam mesmo, porque nele dizem aquilo que não vos têm dito. Vejam mesmo, especialmente se forem dos que ainda chamam 'ajuda' àquilo que o FMI e o BCE têm vindo a fazer a países como o nosso. Vejam mesmo, especialmente se forem dos que deram carta branca ao saque que está a decorrer actualmente em Portugal, assim como noutros países europeus.

Aprendi, ao vê-lo, o que significa “dívida odiosa”. Confesso que para mim todas elas o são, mas a verdade é que não conhecia o conceito. Dívida odiosa é toda aquela contraída sem autorização do povo. É toda aquela em que o dinheiro não é usado para benefício dos cidadãos. E em que os credores estão absolutamente cientes disso, mas como o altruísmo não é propriamente uma qualidade latente nas suas personalidades, e não vai nada de encontro à sua fome de riqueza, vão sugando o património das nações com a conivência dos seus governantes. Ora porque são ditadores e oportunistas, ora porque são incompetentes (ou não os têm no sítio, pois claro).
Alguns já estarão a pensar: lá vêm as teorias da conspiração esquerdistas de quem só sabe criticar. E é quase verdade, foi, de facto, uma doutrina que nasceu do lado onde mora o coração, como não podia deixar de ser. Doutrina altamente repudiada pelos senhores do dinheiro, como também não podia deixar de ser. Quer dizer... nem sempre! Entretanto (como não podia deixar de ser), bem lá no núcleo do capitalismo desenfreado, houve uma “pequena” excepção. Pois, eu também não sabia, mas pelos vistos o sr. Bush (e mais tarde o primo Obama) decidiu que a dívida contraída pelo Iraque era “odiosa”. Que o povo não devia pagar pelos erros do passado. Esforçaram-se tanto para que este termo não fosse usado, não fossem outros povos querer aproveitar a ideia, como para que não se falasse em demasia deste perdão. E não foi a primeira vez, como poderão constatar no documentário. Eles próprios recusaram-se a pagar a dívida acumulada por séculos de colonização hispânica, aquando da tomada de Cuba. O célebre “olha para o que eu digo, não olhes para o que eu faço”.
Fiquei também a saber mais alguns factos, para mim novos, do que aconteceu na Argentina. Por exemplo, que a partir daí o meio de transporte de eleição dos Troikianos, passou a ser o helicóptero (vejam a peça!). Mas o que para mim foi mesmo novo, foi a forma como um país quase desconhecido por terras lusas, o Equador, lidou com esses mesmos senhores. Literalmente expulsaram-nos do seu território. Declararam-nos "personas non gratas" e escorraçaram-nos de lá para fora. Porquê?! Porque declararam as suas dívidas, não só como odiosas, como ilegítimas e inconstitucionais.
Vejam lá que se lembraram de dar prioridade máxima aos compromissos internos, em detrimento dos internacionais (quem havia de se lembrar de tal barbaridade...). Depois do exemplo da Argentina, que canalizara praticamente a totalidade do empréstimo para a salvação dos bancos e das grandes empresas, em prejuízo da economia nacional (onde é que eu já vi isto), o presidente do Equador, Rafael Correa, decide implantar o lema “primeiro a vida, depois a dívida”, recusando pagar aos abutres que pairavam há anos sobre o seu petróleo. Mais... este ex-Ministro das Finanças, que se afastou do cargo por não se vergar ao FMI, a certa altura começa secretamente a comprar títulos da própria dívida a 20% do seu real valor. O Che que me perdoe, mas ganhei um novo herói!

Decidi fazer este post não só para divulgar o vídeo, mas para chamar a atenção que sim, é possível dizer que não. Para mostrar que esta dita 'estabilização' visa proteger apenas os credores, e não baixar a dívida, que irá, no fundo, continuar a aumentar desmesuradamente. Que os termos destes negócios não são claros e há razões fortíssimas para que não se lhes queira ser feita uma auditoria (na Grécia chegou mesmo a ser aprovada uma comissão para o efeito – sabe-se que uma das imposições alemãs para a Grécia, é que não parem de comprar do seu armamento – mas aparentemente... têm sido abafados). Escrevo-o para sublinhar que “o respeito conquista-se através da luta e não da sobrevivência”, e que pagar a divida contraída em prol do neoliberalismo é compactuar com um crime contra a Humanidade.

Escrevo-o para vos dizer aquilo que não nos dizem!

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