quarta-feira, 23 de novembro de 2011

Mas afinal devemos o quê... a quem!?


Para mim é muito simples: a cima de qualquer compromisso internacional, que os 'nossos' representantes assumiram em 'nosso' nome, têm obrigatoriamente que estar os interesses nacionais (parafraseando Rafael Correa, “primeiro a vida, depois a dívida”).
Toda esta questão do 'empréstimo', que na verdade não passa dum negócio de agiotagem pura, faz-me lembrar o típico casal que quer juntar os trapinhos, projecta aquela festa toda cheia de protocolo, e na verdade não a podem pagar. Vão ao banco e pedem um empréstimo para poder organizar 'o dia mais feliz das suas vidas'. Ele já trás um crédito do seu carro comprado novo, há 1 ano atrás. Ela ainda não conseguiu pagar a viagem de finalistas que fez ao Brasil com as suas amigas. Como quem casa quer casa... banco pedir mais financiamento, a fim de poderem corresponder ao socialmente aceitável. Ao longo dos anos vão-se endividando cada vez mais, ora para 'rechear' o lar, ora porque o carro já não serve, ora por várias situações que têm que ser correspondidas imediatamente.
Chegam ao ponto de rotura. Ambos ganham pouco, entretanto o poder de compra desce substancialmente (não só para eles), e no intervalo da sua novela da noite vêem um daqueles spots publicitários tipo 'Cofidis' onde arranjam solução para todas as suas dívidas... endividando-os ainda mais, de certo com taxas exageradas e incomportáveis. Nem reparam que vão pagar juros com juros, aumentando assim o prejuízo final.

Com Portugal passa-se exactamente o mesmo, mas desta feita existem pontos mais graves que o exemplo desse casal. Em primeiro lugar não é quem está a contrair o empréstimo que o vai pagar. Depois, quem decide o que temos que fazer, onde temos que cortar, como temos que viver a fim de poder pagar a chamada dívida, é o credor, o que para mim também não faz muito sentido (é imaginar o meu banco dizer-me que me empresta o dinheiro para a casa se eu não acender a luz, não tomar banho nem tirar o carro da garagem). O cariz 'provisório' de todos os cortes a que temos estado sujeitos, nomeadamente os que são feitos ao nível da protecção social, adivinha-se cada vez mais falso e improvável, mesmo estando a falar de conceitos que levaram quase 40 anos de luta para serem atingidos. Tal como o casal acima referido, no final das contas a nossa dívida pública vai acabar por ser maior, o que, tendo em conta o cenário de recessão previsto até mesmo pelo próprio executivo, aliado ao consequente aumento do desemprego (que conduzirá ainda a mais recessão), tornará impossível uma hipotética retoma económica, e como tal fará da dívida algo absolutamente impagável, já que todos conhecemos a capacidade produtiva e exportadora do nosso país, que é tão dependente do mercado interno. Não se criará riqueza e portanto não existirá forma de cumprirmos o dito 'acordo' já que ficaremos notoriamente mais pobres, como de resto também já foi confirmado pelo próprio 1º Ministro («… nós sabemos que só vamos sair desta situação empobrecendo» – P.P.Coelho a 24 de Out. 2011). De lembrar que só de comissões à Tróica, Portugal terá que desembolsar nada menos que 655 milhões de euros até 2014.
E é por isso mesmo que concordo que uma auditoria à dívida seja imprescindível, não só a bem duma Democracia transparente (sinceramente não conheço outro tipo), mas principalmente com o objectivo de saber quem realmente são os credores, em que circunstâncias foi contraída a dívida e a cima de tudo identificar parcelas ilegítimas, ilegais ou até mesmo inconstitucionais. Sim, porque 'last time I checked', Portugal ainda tem um documento que serve de base a todas as leis aplicadas no país, e esse documento chama-se Constituição (desengane-se quem pensava que não passava do nome da rua mais comprida de toda a cidade Invicta...).
Já nem entro em radicalismos, embora me apeteça, de dizer que os investimentos públicos completamente despropositados e inúteis têm que espelhar a responsabilização dos seus autores. Devia ser, mas já nem entro por esse caminho. Agora, o que me parece demais evidente é que nenhum contribuinte português deve pagar um cêntimo que seja duma qualquer dívida privada. Nunca! Em qualquer circunstância. E no meu ponto de vista é exactamente nesta premissa que se baseia o não à auditoria.

A tróica, e particularmente o FMI, não passa duma máfia organizada que impõe verdadeiras medidas terroristas e fascistas para seu próprio proveito. De notar que a esmagadora maioria das intervenções levadas a cabo por estas entidades, falharam! E há mesmo vários casos em que o país só retomou a normalidade após a expulsão destes 'tecnocratas neo-liberais'.

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