segunda-feira, 23 de janeiro de 2012

«Eu disse 'viragem', não disse que era para melhor!»



Está prestes a fazer um ano que Teixeira dos Santos definia um tecto máximo para os juros das obrigações do tesouro. Dizia o ministro das finanças de Sócrates que, chegados à fasquia dos 7%, Portugal teria que recorrer ao FMI para se poder financiar, como acabou por acontecer pouco tempo depois. Pedimos ajuda, tivemos eleições antecipadas. O que tenho achado da actuação do governo eleito já o disse, hoje gostava de focar este número: 7%. Por alturas de campanha eleitoral, segundo o partido vencedor, bastava que o governo socialista caísse para que as taxas de juro descessem, e para que as agências de notação subissem o rating da República, teriam que ser aplicadas as suas reformas. Pois bem, na passada semana, cuja actualidade foi esmagada pela concertação social e pelo acidente na costa italiana (não esquecendo o facto das dificuldades financeiras já terem chegado ao bolso de Cavaco Silva), três acontecimentos fizeram-me recordar todo este primeiro parágrafo:

- o BdP divulga os Indicadores de Conjuntura onde consta que a actividade económica do país no mês, por norma, mais activo no que diz respeito ao consumo, cai 3,4%, fazendo de Dezembro de 2011 o pior mês desde que há registo (Janeiro de 1978).

- os juros da dívida a 10 anos chegaram muito perto dos 14,6% (mais do dobro da meta traçada, atingindo assim um tecto máximo desde a entrada da moeda única).

- a agência de notação S&P baixou o rating de Portugal para o titulo já muito famoso, 'Lixo'.

Lembro-me de conversas que tive em Novembro, uma mais acesas que outras, com alguns representantes fortes e orgulhosos da Grande Loja Maçónica do Carneirismo Lusitano, que se mostravam indignados pelas notícias que chegavam aos nossos meios de comunicação dando conta que os portugueses, neste Natal, gastariam mais que os manos alemães. Nunca percebi como é que se fazem contas ao que 10 milhões de pessoas vão gastar daqui a um mês, provavelmente o método de recolha de dados é muito semelhante ao das sondagens para as eleições. E honestamente também não faço ideia se entretanto já alguém fez a autopsia ao corpo, a fim de confirmarmos (ou não) a tese, mas também não me parece importante. Aliás, cada vez me sinto mais enojado com comparações da ordem económica com os países do centro e do norte da Europa (por que raio é que não começam duma vez a comparar-nos com os países sub-desenvolvidos?). O que está à vista de qualquer um que se dê ao pesado trabalho de desligar por momentos a televisão, e falar com os amigos, com os familiares, colegas, conhecidos, vizinhos... é que cada vez mais as pessoas se retraem ao consumo! É duma clareza gritante!
Isto, conjugado com o facto de pagarmos progressivamente mais caro pelo dinheiro que pedimos emprestado, atingindo máximos históricos com uma frequência preocupante, dá-me cada vez mais a certeza de que será impossível pagar esta dívida, remetendo-me a dar razão, muito provavelmente pela primeira vez, ao filósofo de formação francesa, quando diz que pensar em pagar a dívida é ideia de criança. E é de facto das ideias mais naifes que se entranhou na sociedade nos últimos tempos! E só para relembrar, em meados de Abril de 2011, 14% era a média dos juros da dívida grega, e por essa altura, o seu risco de incumprimento já rondava os 70% (por cá, na semana passada, o risco de Portugal não cumprir atingiu os 66,78%). Não relembro este facto à toa: a questão é que, três meses depois da Grécia ter chegado a estes valores, as instâncias internacionais decidiram aprovar um segundo pacote de resgate ao país. Presentemente estão a negociar o perdão de metade da dívida. Dir-me-ão que 'Portugal não é a Grécia'. E não é, mas tendo em conta todo o crescimento económico português, em paralelo com a diminuição do desemprego (consequência garantida da próxima actualização do Código de Trabalho)... não seremos a Grécia mas não vamos andar muito longe!
No entanto, segundo o ministro encantador de carteiras, '(...) tivemos um sinal de que podemos estar a aproximar-nos de um ponto de viragem'. Faz lembrar o clássico passo em frente de João Pinto, quando o F.C. do Porto se encontrava à beira dum precípicio... para Vitor Gaspar, momento de viragem é vendermos dívida do Estado a vencer em Junho deste ano, quando os investidores têm toda a garantia de cobertura pelo dinheiro vindo da troika!


ADENDA: e não é que, dois dias depois deste post...
(oh Gasparzito, até podes iludir a carneirada tuga, mas dificilmente passas disso!)

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